22 de setembro de 2010

Resumo

A ignorância é uma bênção, mas o autoconhecimento é um vício.

E agora?

Só me resta mergulhar no tormento do autoconhecer-me.

Estou viciado.

20 de setembro de 2010

A de AHAM, B de BULLYING, G de GRAAAATO!



Agradeço a quem me deu rasteira na escola
A quem escondeu minha bola na quadra do condomínio
A quem roubou minhas 'gudes' e me fez sentir como um idiota

Obrigado, de coração, a quem mangou de mim no Salesiano
A quem praticou o bullying contra minha pessoa na pré-adolescência
A quem me deixou sozinho chorando na sala da 6ª A quando perdemos a gincana do CCPA

Gratíssimo sou ao coleguinha que fechou o portão na minha cara e fez com que eu lascasse a testa
A todas as meninas que disseram não quando eu chamei pra dançar forró
A todos os meninos que me excluíram das brincadeiras porque eu era mais afeiçoado às meninas

Meu pleito de gratidão aos professores que torturavam para evitar que eu comandasse rebeliões
Ao dono da cantina que me deixava comer e só pagar no final do mês
À colega do 3º ano que me ensinou a fumar como forma de me rebelar

Sou grato às namoradas pela paciência
Aos namorados pela deferência
A quem não me quis pela preferência

Obrigado aos que me alertaram para cair fora dessa profissão enquanto havia tempo
Aos que me ignoraram solenemente ou mesmo sem nenhum protocolo
Aos amigos que me bloqueiam e/ou me dão unfollow

Sobretudo, muito obrigado por me mostrarem que não adianta fingir
Nós somos desprezíveis e nos importamos apenas com o que nos afeta
Muito grato por me fazerem sugar todo esse leite para, finalmente, entender porque é tudo fake

8 de setembro de 2010

Ele, ela, os dois... (e eu). Todos no avião.

Ele sentou na cadeira da janela.
Ela sentou na do meio.
Os dois já se conheciam, mas só isso.

Ele falava alto.
Ela parecia interessada.
Os dois não paravam de conversar.

Ele mostrava as músicas que gostava.
Ela prestava atenção e respondia mostrando suas preferências.
Os dois cantavam juntos.

Ele segurou a revista dela.
Ela foi ao banheiro.
Os dois sorriram quando ela voltou.

Ele cochilou no ombro dela.
Ela não resistiu e cochilou no ombro dele.
Os dois se deram as mãos.

Ele alisava a mão dela.
Ela se deixava alisar e, às vezes, retribuia.
Os dois estavam eletrizados um pelo outro.

Ele esperou que ela levantasse para ajudá-la com a bagagem.
Ela agradeceu, feliz, com um beijo nos lábios dele.
Os dois se beijaram pela primeira vez.

Se foi exatamente assim? Não sei.
Mas eu estava na cadeira ao lado prestando atenção em tudo.
E foi assim que eu vi. Foi assim que eu preferi ver.

3 de setembro de 2010

"A melhor maneira de viajar é sentir"

A frase do título é de Álvaro de Campos e, para mim, faz todo sentido. Viajar é viver alguns dias como um avatar não identificado de mim mesmo. Esse é um dos significados mais fortes. Viajar é ser livre, é ser rico (meus cartões gritam por socorro quando eu volto), é ser quem eu quiser ser. Sabe aquela fantasia de recomeçar a vida do zero, arrumando tudo o que a gente não gosta nela? Viajar me permite realizá-la, ainda que por pouco tempo.

De uns tempos para cá tomei a decisão de viajar mais, conhecer mais lugares, sair. Isso como meta de vida mesmo. Foi então que, esta semana, fiquei pensando sobre o porquê de querer viajar tanto assim.

Sair é fuga. E eu aproveito, viu? Para começo de conversa, eu minto muito em viagens. Muito mesmo. Mas nao é mentira do tipo: "sou rico e moro numa cobertura em Copacabana". É mais para: "autoestima? Claro que tenho! Sobrando. Quer um pouco?". Sim, quando eu viajo, fantasio sobre como seria se eu... E sabe que as pessoas acreditam?

Como seria se eu tivesse coragem de abordar fulano, que é tão lindo que jamais me daria bola? Já pensou nisso? Em sua cidade pode ser um mico. Viajando é o máximo, é história para contar, não para esconder. O lema é mais ou menos o bom e velho: "não sou daqui, não vim para ficar".

E como seria se eu dissesse que já fiz e aconteci, que não tenho problemas com quem sou, que estou muito feliz e que sou independente e não preciso do seu reconhecimento para me sentir bem? As pessoas acreditariam? Olha, já estou com frio na barriga só de pensar!

Isso sem falar que, admita, viajar nos faz sentir melhores em relação aos outros. Fala sério. Pode parecer mesquinho, mas é verdade. Viajar nos torna especiais diante dos olhos das outras pessoas, seja porque temos mais experiência, seja simplesmente pelo status de ter ido aonde outros ainda não foram. Nos torna atraentes, interessantes. Viajar alimenta o ego.

"Humano, demasiado humano". Né, Nietzsche? Talvez more aí a tal depressão pós-viagem. A vida volta a ser dura não pela rotina, mas pelo reencontro com a vida que criamos para nós mesmos e não sabemos direito como gerenciar para que fique melhor. Até a próxima viagem...

A melhor maneira de viajar é sentir
Álvaro de Campos

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.